Dia 21 de Setembro: Dia nacional de luta contra as monoculturas
Carta Aberta à população
Nós, moradores(as) de Vila do Riacho, comunidades indígenas Tupiniquim e Guarani e integrantes da Rede Alerta Contra o Deserto Verde, vimos denunciar todas as formas de violência produzidas pela Empresa Aracruz Celulose contra as populações locais do seu entorno desde a sua instalação há 36 anos.
A Aracruz Celulose destruiu todas as formas de subsistência de nossas populações: destruiu os rios, destruiu a mata atlântica, invadiu nossas terras produzindo o caos social e ambiental. Como a Aracruz Celulose que prometeu desenvolvimento, emprego, melhoria das condições vida, conseguiu, nesses 36 anos, ficar completamente impune?
As violências são inúmeras: a população de Vila do Riacho tem sido vítima de abusos constantes das polícias militar, ambiental e da milícia armada da Aracruz Celulose (VISEL). É-lhes cerceado o direito de ir e vir e de trabalhar; Trabalhadores têm seus instrumentos de trabalho apreendidos e/ou destruídos; Moradores são ameaçados; Adolescentes são ameaçados e presos; Famílias têm seus lares invadidos; cidadãos são acusados de furto sem qualquer prova; Pequenos proprietários são violados nos seus diretos, tendo a casa destruída e plantios arrancados. E aí, a população indignada pergunta: o que se deve fazer quando a polícia, que é sustentada pelo dinheiro público, que tem a função de dar segurança ao cidadão, se transforma num instrumento de terror, a serviço de interesses privados da Aracruz Celulose?
Os pescadores não têm mais o que pescar; a água de uso doméstico está contaminada, adoecendo crianças e adultos, forçando uma população desempregada a comprar água mineral ou a se deslocar quilômetros de distância para buscar água potável. Tudo isso porque a Aracruz Celulose, na sua produção, consome uma quantidade diária de água que corresponde à mesma quantidade que uma cidade de dois e meio milhões de habitantes gasta por dia, e não paga nada por isso. E mais, para atender ao seu interesse econômico não respeita qualquer princípio ético, ambiental e social: represa rios, faz transposição da bacia do Rio Doce (Canal Caboclo Bernardo), inunda propriedades, inverte cursos de rios (Rio Gimuna) e contamina as águas com uso intensivo de agrotóxico nas suas plantações. Assim produz um desastre ambiental incalculável e irreversível. A população mais uma vez pergunta: por que a Aracruz Celulose, que tem essa prática perversa, consegue ser premiada como empresa defensora do meio ambiente?
Nossas populações locais que viviam de forma autônoma como pequenos produtores, lavradores, pescadores e trabalhadores independentes hoje vivem cercadas pelos plantios de eucalipto, sem qualquer perspectiva de trabalho. Para muitos de nossos trabalhadores não resta outra alternativa imediata de sobrevivência senão a produção de carvão. Entretanto, nem isso podem fazer. A empresa com toda sua truculência tem perseguido os catadores de resíduos e os trata como se fossem bandidos, buscando cada vez mais inviabilizar a permanência das comunidades no seu entorno. A população outra vez pergunta: diante de tantos danos causados por que a empresa recebe financiamento público e privilégios fiscais? Enquanto, para nós resta o mau cheiro, a poluição, o risco tóxico e o total descaso por parte do estado e da prefeitura.
A Aracruz Celulose quer negar o seu passado destruidor da cultura e do modo de vida das populações locais. Só quer olhar para o futuro e gerar desenvolvimento. Perguntamos: desenvolvimento para quem? Para nós, discutir o passado é vital. “Perguntem aos mais antigos sobre o estrago que ela, a Aracruz Celulose, fez por aqui! Aí então vamos lembrá-la do que perdemos e quanto custa a ela reparar as perdas e danos que ela nos causou”.
Poucos sabem que no primeiro semestre de 2004 a Aracruz Celulose obteve um lucro financeiro de 135,5 milhões de dólares.
Quanto maior o lucro da empresa maior a miséria do povo!