Aracruz Celulose e a Copa do Mundo: quando a publicidade esconde o desmatamento
Enquanto a atenção de milhões de brasileiros está centrada na seleção, a Aracruz Celulose apareceu com uma publicidade na televisão, a nível nacional, nos intervalos dos jogos da Copa do Mundo. A peça publicitária mostra celebridades como o Rei Pelé, Daiane dos Santos, Marcos Pontes e outros jogando uma bola de futebol um para o
outro, enquanto uma voz afirma no final: “Aracruz, fazendo um papel bonito lá fora”.
O recurso de recorrer à publicidade para melhorar uma imagem não é novo.
Planejadamente, a empresa aproveitou a audiência da Copa para tentar empurrar para o
público a idéia de que representa o Brasil no exterior com competência. Mas o que ela
busca mesmo é usar essa “boa imagem” para encobrir todas as violações que tem
cometido durante os últimos 30 anos contra comunidades indígenas, quilombolas e
camponesas, entre outras.
O que a empresa definitivamente não quer que o público saiba é, por exemplo, o ato que
cometeu no último dia 16 de junho na comunidade de Jacutinga, município de Linhares,
Norte do Espírito Santo. Neste dia, poucas instituições públicas funcionavam devido ao
feriado prolongado e aproveitando a data, mandou desmatar uma área de Mata
Atlântica.
A empresa mobilizou sete tratores para derrubar a mata, mas foi detida por uma
comunidade de camponeses que defende a preservação no local. A área de mata ciliar
em questão está sendo preservada há 20 anos pelos pequenos agricultores, membros do
Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), como forma de proteger e recuperar os
recursos hídricos e a biodiversidade.
As primeiras reações da Aracruz Celulose foram chamar a polícia para dar “proteção” às
máquinas e seus operadores e em seguida colocar sua guarda particular, a Visel, para
guardar a área. A comunidade denuncia que a Aracruz está tentando agir a noite para
mudar o cenário.
Ontem, 19 de junho, uma equipe do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) no Espírito Santo esteve na área e confirmou o fato de que
a Aracruz desmatou pelo menos três hectares de mata nativa e ordenou a paralisação
imediata das atividades, enquanto analisa a autorização que a empresa apresentou, com
data de 2001, para derrubar árvores no local. Entretanto, a vegetação está próxima ao
córrego Jacutinga e em área de declive, o que segundo as legislações estadual e federal
torna o local protegido contra desmatamentos.
Enquanto a publicidade da Aracruz Celulose esconde o desmatamento, entre outras
agressões cometidas ao meio ambiente no Brasil há mais de 30 anos, a empresa tenta
convencer nossa sociedade e também a comunidade européia – principal consumidora
de sua matéria-prima, a celulose – de que é social e ambientalmente responsável.
Rede Alerta contra o Deserto Verde – 20 de junho de 2006