Carta-Denúncia: Suzano viola direitos em Imperatriz (MA)
Imperatriz, 21 de Setembro de 2024
A Rede Alerta contra Desertos Verdes está presente em diversos territórios no Brasil violentados pelos danos do monocultivo de árvores e da indústria do papel e celulose. No dia 21 de setembro, Dia Internacional de Luta Contra os Monocultivos de Árvores, estivemos nas comunidades dos assentamentos Angical, Canaã e Eldorado no município de Imperatriz e Cidelândia, no Maranhão, acompanhando a alarmante situação de violência contra os Direitos Humanos e contra a vida.
Em área com processo de Reforma Agrária já laudada e analisada em instâncias superiores como o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), a empresa Suzano e a Polícia Militar do estado do Maranhão atuam sem a devida identificação praticando atos de agressão, demolição e incêndio de casas, incêndios florestais e denúncias infundadas para intimidar moradores das comunidades da antiga Fazenda Eldorado, uma área ocupada por mais de 20 anos e com laudo de improdutividade e destinação social para a reforma agrária.
A Polícia Militar e a Força Tática fardados e com nome de identificação suprimidos, bem como sua guarda patrimonial, cometem sistemáticos abusos de autoridade, ameaçando a população com cachorros, incendiando e destruindo casas na ausência dos moradores, perfurando suas caixas d’água, roubando e furtando objetos, máquinas de trabalho e produção agrícola de alimentos, além de cometerem agressões aos moradores e falsas acusações para intimidar, multar e criminalizar lavradores e lavradoras da Fazenda Eldorado, área com destinação social para Reforma Agrária.
A empresa ainda contamina as lavouras dos moradores com agrotóxicos destinados a seu monocultivo de eucalipto na região, em grande parte abandonado, monitora ostensivamente a casa dos moradores com seus drones e seguranças que transitam pela vila sem autorização dos moradores. Coagem os moradores a assinar documentos sem informá-los do que se trata ou dar o tempo necessário para leitura e compreensão do que estão assinando.
Diante dos abusos da empresa e das autoridades que deveriam assegurar o cumprimento das leis, denunciamos:
- A empresa Suzano Papel e Celulose e seu atual presidente Beto Abreu pelos repetidos abusos e violações de direitos humanos e ambientais nos assentamentos Angical, Canaã e Eldorado no município de Imperatriz e Cidelândia, no Maranhão.
- O governo do Estado do Maranhão e seu governador Carlos Orleans Brandão Júnior por garantir a invisibilidade dos crimes cometidos e a impunidade da empresa Suzano Papel e Celulose.
- A parceria público-privada entre Estado e empresa que garante que a Polícia Militar priorize a todo custo a defesa da empresa Suzano Papel e Celulose, em detrimento dos direitos desta população.
A Fazenda Eldorado com área de mais de 12 mil hectares teve seu processo de desapropriação para fins de Reforma Agrária aberto em 2004 (Processo n. 54.234.00089/2004) com laudo técnico favorável à desapropriação por improdutividade. Após o laudo, as empresas Suzano Papel e Celulose e a Vale S.A protocolaram uma ação de anulação de ato administrativo (Processo n. 2005.37.01.000094-9). Após 8 anos de processo, o STJ ratificou que todos os 12.267.4173 hectares da Fazenda Eldorado devem ser destinados para a reforma agrária.
Sobre tais fatos, boletins de ocorrência e ofícios foram encaminhados ao departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público Estadual do Maranhão sem nenhuma providência ter sido tomada até o momento.
Reivindicamos:
- À empresa Suzano Papel e Celulose e ao Governo do Estado do Maranhão que CESSEM imediatamente com a violência sobre as comunidades dos assentamentos Angical, Canaã e Eldorado no município de Imperatriz e Cidelândia, no Maranhão.
- Ao INCRA que titule o assentamento as famílias nos 12.267.4173 hectares da Fazenda Eldorado como definido pelo processo aberto em 2004 e ratificado pelo STJ.
- Ao Governo do Estado do Maranhão que fiscalize sua Polícia Militar e Força Tática para que utilizem obrigatoriamente sua identificação na farda como consta na norma e cessem imediatamente a forma ostensiva, violenta e ilegal com as famílias de lavradores na região.
- À Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) que exerça seu dever de defender os direitos humanos de quem está na terra por direito!
- Ao Ministério Público Federal (MPF) que acompanhe de perto as sistemáticas violações promovidas pela empresa Suzano Papel e Celulose na região, bem como a parceria público-privada entre empresa e Polícia Militar na cidade de Imperatriz (MA).
- À Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão (SEMA) que apure as notificações entregues aos lavradores e lavradoras sobre multas ambientais assinadas pela Polícia Militar de Imperatriz.
A situação relatada, apesar de alarmante, não é diferente do que há décadas vem ocorrendo em comunidades vizinhas da Suzano. Seja em territórios quilombolas no Sapê do Norte, Espírito Santo, ou em territórios indígenas e quilombolas no sul da Bahia, as violações de direitos humanos e da natureza são a constante presença no entorno dos plantios e fábricas da empresa.
Declaramos que as violências cometidas pelo Estado e empresa Suzano contra as famílias de lavradores e lavradoras no Maranhão não serão esquecidas e nem serão invisibilizadas Reivindicamos a reparação dos direitos humanos e da Natureza, o recuo imediato dos plantios abandonados pela empresa na região, a devida reforma agrária, bem como o fim da invasão da sua segurança armada junto com a PM nos assentamentos.
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- Acampamento Viva Deus 2 – (MA)
- Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura – ACESA
- Associação de Combate aos Poluentes – ACPO
- Aldeia Indígena Pataxó Pequi
- Aldeia Pataxó Rio do Cahy
- Associação do Movimento Agrícola e Popular – AMAP
- Amigas da Terra Brasil
- Assentamento Angical (MA)
- Assentamento Viva Deus (MA)
- Associação Camminando con Don Marco
- Associação das quebradeira de coco do nova Jerusalém
- Associação de Mulheres Unidas da Serra (AMUS)
- Associação de Pescadores Profissionais de Tutóia (MA)
- Associação de Produtores Hortifrutigranjeiros de Tendal Mirim Paço do Lumiar (MA)
- Associação do Assentamento Canaã (MA)
- Associação dos Agricultores Ruralistas de Tabocas (AGRUTAC)
- Associação dos Pequenos Produtores Rurais dos Povoados Pati/Gostoso
- Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Eldorado (APRAEL)
- Associação dos Quilombolas do Quilombo Barro Vermelho
- Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (AMAVIDA)
- Associação Nova Canaã (MA)
- CDDH Dom Tomás Balduíno
- Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pe. Josimo
- CFCAM-ES
- Comissão Quilombola do Sapê do Norte/ES
- Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra – COMSOLUTE
- Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
- Conselho Quilombola das Comunidades Quilombolas do Extremo Sul Baiano.
- Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE – Espírito Santo)
- Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA)
- Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Tocantins (FETRAF- TO)
- Flor da Floresta
- Fórum Carajás
- Instituto Maíra
- Jornal Poder Popular – Nova Friburgo, RJ
- Justiça Global
- Marcha Mundial das Mulheres Maranhão
- Movimento nacional das pessoas em situação de rua – MNPR
- Nupedor – Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural (UNIARA)
- Ong Arte-Mojó
- ONG REDI – Restauração e Ecodesenvolvimento da Bacia do Itabapoana
- Organizar Yakã Porã
- Rede Ambiental do Piauí
- Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado do Maranhão – SASEMA
- Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro
- Sindipúblicos – Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado do Espírito Santo
- Sindsert Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Timbiras – MA
- Sinpro de Nova Friburgo e Região
- Unidade Classista
- WRM – World Rainforest Movement
Internacionais
- Biofuelwatch
- Comité de Derechos Humanos y eco de Quilpue – Chile
- El Comité Noruego de Solidaridad con América Latina (LAG)
- Environmental Paper Network (EPN)
- Information Democratization Project from Food – Japão